Quem te mostrou que estavas nu? Gênesis 3.

26/11/2011 18:52

 

Qual o objetivo de Deus ter criado o homem? A primeira resposta que se dá é de Deus ser adorado. Mas diz em João 5.41: “Eu não recebo glória da parte dos homens;”. A escritura já nos revela que este serviço (Adoração) já é prestado pelos anjos (Apoc.7.11; 8.2; Jô 2.1). Mas, o que percebemos no Gênesis, é um Deus em perfeita comunhão com o homem. Este relacionamento, no jardim do Edem (Gn 3.8), revela que foi perdido e o que Deus pretende restaurar, ou seja, o relacionamento, a comunhão. A escritura revela que Deus é de relacionamento. Diz: “Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro” (1 João 4.19), revela um Deus de relação. Em sua essência Ele não subsiste só (tri-unidade). Há um diálogo entre o pai e o filho. A vida de Jesus é sempre de constante diálogo com o Pai. Se Deus chama Adão, e este reconhecendo a voz de Deus que soava no jardim (Gen. 3.8), pressupõe uma relação pré-existente. Assim, o fato de Deus criar o homem a sua semelhança, implica em relação íntima e não de uma relação entre servo e escravo. O fato de Paulo considerar-se escravo, é uma postura assumida pelo próprio Paulo mas, que não reflete o tratamento que Deus quer co os homens.  

 

Diz Oséias: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Oséias 6). É interessante que, este é o principal mandamento dentro do Judaísmo, até hoje: “Conhecer a Deus”.

Deus revelar sua vontade e o seu nome aos homens, pois diz Deus: eu lhe fiz conhecer o meu Nome (Ezequiel 20.9). Por que Deus se faz conhecer aos homens? Não há uma intenção egoísta por parte de Deus, em querer algo dos homens. A passagem de Gênesis 3, nos diz do interesse de duas vias – Deus deseja o homem e este a Deus – um dupla relação. Agostinho, bispo de Hipona, diz do desejo do coração do homem por conhecê-lo (Confissões) (Salmo 84.2).

Como Adão poderia conhecer mais a Deus, uma vez que havia coisa ainda desconhecida a ele? O teste era este: o homem deveria confiar em Deus. A relação deveria ser na confiança de que Deus os guiaria em todo o conhecimento e, seguir a orientação de Deus seria o seu teste. Confiar no que Deus diz – “Certamente morrerás” – ou confiar no diabo, que disse “certamente não morrerás. A dúvida lançada por Lúcifer causou em Adão a dúvida da confiança em Deus. O desejo pelo saber ou por conhecer, é algo dado por Deus aos homens. A estratégia de Lúcifer é desviar esta busca para outras vias. Lúcifer, este nome quer dizer, tornou-se luz. Há uma tendência filosófica em levar o saber pela via de si mesmo, confiando na própria razão, totalizando um saber científico empírico e racional.

O diabo aproveita do homem aquilo que ele tem por natureza, herdado de Deus, a saber, o desejo de penetrar as coisas ocultas, para a crença de que ficar na dependência de Deus é permanecer na ignorância.

 

E chamou o Senhor Deus a Adão: “Onde estás?” (Gn. 3.9).

A pergunta nos leva a reflexão de onde estamos pisando. Será que estamos seguros do lugar onde estamos? Deus sabia, é lógico, onde Adão estava. Porque a pergunta? A pergunta é retórica e nos faz refletir da nossa real condição enquanto homem. Onde estamos agora? Fazendo o que? Para que? E, porque? Quando tivermos ciência desta questão então saberemos para onde devemos ir, os temores desaparecerão. Mas, outra pergunta nos leva além daquilo que achamos entender:

E Deus disse: “Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?” (v.11).

Novamente, parece que Deus não sabe o que aconteceu? Claro que não é essa a questão. A pergunta não era para saber o que aconteceu. A pergunta exige uma resposta que só Adão poderia dar. É neste momento que o homem é colocado em cheque – frente a frente com Deus!

A pergunta é direta e comprometedora: “quem te mostrou que estavas nu?” A segunda pergunta é acusadora e faz Adão tremer: “Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?”.

Quem de nós conseguiria enfrentar essa questão de frente sem tremer, ou antes, tentar escapar pela tangente? Quem de nós não temeria o pior castigo, uma vez que no coração pairava um sentimento de ameaça? Adão, é claro, não conhecia a morte e nem poderia ter nenhuma noção do que fosse isso e, logicamente, poderia temer ou não mas, não foi exatamente isso que ele temeu.

Então, o que Adão temeu? Adão temeu o que nós tememos, hoje. É falso achar que todos os homens têm medo do inferno ou de ameaças futuras. Mas, voltando a questão, o que Adão temeu e o fez tremer é justamente aquilo que todos nós não conseguimos enfrentar, a saber, assumir a responsabilidade por nossos erros. Quando encurralados, colocados contra a parede, a primeira intuição é em como escapar.

Aqui me faz lembrar a Davi, por que este é tido como o homem segundo o coração de Deus. O fato de Davi ser considerado o homem segundo coração de Deus não é pelos seus motivos de fidelidade ou santidade. Davi, depois de pecar, relutou em muito em não assumir seus erros. Mas, depois de assumir e dizer: "Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista,..." (Salmos 51:4) Aqui está a razão de Davi ser o homem segundo o coração de Deus.

O homem que assume a responsabilidade pelos seus atos. A tendência de todos os homens é negar ao invés de assumir a culpa. Não foi o que Jesus veio fazer por nós? Assumir a culpa é o que Ele fez! Ele se fez pecado por nós: "Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós;"  (II Coríntios 5 : 21)

Deus mesmo diz pelo profeta que não valoriza o sacrifício: “pois eu quero misericórdia e o conhecimento de Deus mais do que os holocaustos” (Oseias 6)

Alguém precisava assumir a culpa e, como pai jamais se contenta com o afastamento do filho, a reparação foi necessária pelo filho, o único que assumiu a culpa. Mas, para não me estender em outras questões, não que as considere importunas e sem importância, mas pelo pouco tempo aqui disposto, finalizo dizendo o pecado de Adão que foi não assumir a responsabilidade para si. Lembrando que diz “Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.” (1 João 1.10). Adão coloca a causa na mulher. A mulher coloca a culpa na serpente. A serpente, conhecendo sua condição, não propôs defesa, pois já tinha sido excluído da comunhão de Deus, o castigo que ela recebeu prefigura que ninguém deve ser tido por inocente.

O homem tem aprendido a cada dia a se defender das acusações e se manter por inocente mesmo quando culpado. É incrível como a arte de advogar em defesa própria tem demonstrado uma habilidade bem pega no campo jurídico. Faz-me lembrar agora do filme o advogado do diabo, onde Lúcifer é o perito nesta arte.

Acredito que há uma pressão psicológica que reprimi das pessoas assumirem quem são. O medo da opinião pública ainda tem sido um peso em muita gente. Quantas pessoa tem medo de assumir certas coisas não por causa de sua consciência, mas por conta da consciência dos outros. Uma amiga me contou que tem um parente que vive escondido pelo fato de ter divorciado, pois na família isso não tem aprovação. É incrível quantos pessoas policia e censura a vida dos outros. Não ligam para os temores que esta pessoa possa estar passando. Pelo contrário, escravizam e os fazem mais culpados do que já se sentem. Sabe o porque fazem isso? Qual era a função de Lúcifer? Não é sempre acusar e nos fazer sentir pior? A mesma mentalidade perdura na mente de muita gente que são como advogados do diabo.

Lembramos das palavras do mestre; aquele que vem a mim, de maneira alguma, o laçarei fora.

- Devemos andar segundo a instrução de Deus. Devemos andar segundo a vontade de Deus.

Não é negar que estamos despidos, nem muito menos nos iludir com a prepotência de que somos vítimas dos outros.

Se você errou, faça como Davi e confesse a Deus. Nunca tente prometer algo que nunca conseguirá cumprir, mas apenas quando ouvir a sua voz te chamando, diga, Senhor estou aqui e sei que fiz o que era mal aos teus olhos mas, que este mal, não seja um sinal de afronta a ti, mas o quanto eu preciso de ti.

Tem ciência de onde você está? Tem ciência de todos os seus passos? Sabe que Deus te conhece? Sabe que ele jamais desiste de você? Então, sabemos que nele, somos mais que vencedores. E ainda bem, que conseguimos ver nossa nudez.

 

Amém!

 

Paulo Filoteus